A Doença de Crohn é um distúrbio sério do trato gastrointestinal. Ela é chamada assim, porque Burril B. Crohn foi o primeiro nome de um artigo de três autores, publicado em 1932, que descreveu a doença. De acordo com a Associação Brasileira de Colite Ulcerativa e Doença de Crohn, o distúrbio afeta, predominantemente, a parte inferior do intestino delgado (íleo) e intestino grosso (cólon). Todavia, a enfermidade pode atingir qualquer segmento do tubo digestivo, desde a boca até o ânus, de forma descontínua, intercalando zonas de inflamação com zonas saudáveis. E não tem cura.
Quais são os sintomas da Doença de Crohn?
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) reconhece que, quem convive com as Doenças Inflamatórias Intestinais (DIIs), como a Doença de Crohn, deve ter acompanhamento médico contínuo para controle permanente dos sintomas, ao longo de toda a sua vida. E é necessário ficar atento aos sinais, como persistência de dor abdominal, diarreia e sangramento nas fezes. Neste caso, é importante ir ao médico para ter um atendimento especializado e diagnóstico precoce.
Saber que tem a doença, o quanto antes, é primordial para que o paciente possa iniciar o tratamento adequado o mais rápido possível e evite a piora no quadro, assim como manifestações mais graves, que podem levar a internações e cirurgias. A Doença de Crohn, habitualmente, causa diarreia, cólica abdominal, febre e, às vezes, sangramento retal. Também podem ocorrer perda de apetite e perda de peso.
Os pacientes possuem um maior risco de carências nutricionais e precisam focar em uma nutrição reforçada de suplementos alimentares. Assim, é fundamental ter uma alimentação variada com boa qualidade proteica, tendo equilíbrio entre os carboidratos, gorduras, vitaminas e minerais. A alimentação aliada ao tratamento medicamentoso auxilia no controle das crises. Para a saúde mental, a Fiocruz recomenda psicoterapia, grupos de suporte, meditação e yoga. Também deve-se fazer o uso correto dos medicamentos prescritos pelos médicos.
Conheça os principais sintomas da Doença de Crohn:
- Dor abdominal;
- Perda de peso;
- Diarreia (embora a presença de sangue e muco nas fezes seja menos frequente).
Em alguns casos, o paciente ainda pode apresentar:
- Anemia;
- Perda de peso;
- Anorexia;
- Vômitos;
- Náuseas.
Quais são os outros sinais importantes da Doença de Crohn?
Caso haja envolvimento do intestino delgado, a capacidade de absorver os nutrientes poderá ficar comprometida e, consequentemente, poderá surgir a síndrome de má absorção e posterior desnutrição. Por isso, a necessidade de manter uma dieta balanceada.
Outra manifestação clínica muito mais frequente na Doença de Crohn é o envolvimento perianal (doença do ânus e reto), nomeadas fístulas e abcessos. Elas afetam 30% dos pacientes e, em 10% dos casos, podem ser a manifestação inicial da doença.
Nestas situações, os sintomas causam um impacto muito negativo na qualidade de vida do paciente, com:
- Dor perianal;
- Drenagem de conteúdo mucopurulento;
- Febre;
- Dor durante as relações sexuais.
Quais são os diferenciais da Doença de Crohn?
O Ministério da Saúde (MS) ressalta que a Doença de Crohn pode causar diarreia. O diferencial é que esta pode se desenvolver lentamente ou começar de maneira súbita, frequentemente após as refeições e com dores abdominais. Além disso, podem haver dores articulares, nas juntas e lesões na pele. O MS adverte que sintomas precoces da Doença de Crohn são lesões na região anal, incluindo hemorróidas e fissuras.
O Manual MSD alega que os sintomas da Doença de Crohn podem durar dias ou semanas, mas também podem se resolver sem tratamento. Geralmente, ela reaparece em intervalos irregulares, ao longo da vida do indivíduo. As crises podem ser leves ou graves, breves ou prolongadas. Crises graves podem provocar dor intensa e constante, febre e desidratação.
Não se sabe o motivo pelo qual os sintomas aparecem e desaparecem ou o que desencadeia novas crises e determina a sua gravidade. A inflamação recorrente tende a aparecer na mesma região do intestino. Ela também pode aparecer em regiões próximas de um segmento doente que foi removido cirurgicamente.
Público infantil
Em crianças, dor abdominal e diarreia geralmente não são os sintomas mais importantes e podem nunca se manifestar. Os sintomas principais, na verdade, podem ser crescimento lento, inflamação das articulações (artrite), febre ou fraqueza e fadiga resultantes da anemia.
Como é feito o diagnóstico da Doença de Crohn?
O diagnóstico da Doença de Crohn necessita de avaliação clínica e:
– Análises de sangue e fezes: não existem exames laboratoriais específicos para identificar a Doença de Crohn, mas os exames de sangue podem revelar a presença de anemia, um número excepcionalmente alto de glóbulos brancos, níveis baixos de albumina e outros sinais de inflamação, tais como níveis elevados de velocidade de hemossedimentação ou de proteína reativa C. É possível que o médico também realize provas de função hepática. Se houver diarreia, é possível que o médico colete amostras de fezes para descartar determinadas infecções intestinais.
– Exames de diagnóstico por imagem: o indivíduo com dor abdominal grave e sensibilidade frequentemente faz uma tomografia computadorizada (TC) ou imagem por ressonância magnética (RM) do abdômen. A TC ou RM pode mostrar um bloqueio, abscessos ou fístulas, bem como outras possíveis causas de inflamação abdominal (como apendicite). Por sua vez, as pessoas que apresentam sintomas recorrentes após algum tempo podem realizar radiografias do estômago e intestino delgado após ingerir bário líquido (um exame denominado série gastrointestinal superior com exame de trânsito do intestino delgado) ou realizar radiografias após receberem bário como um enema (um exame denominado enema de bário). Novas abordagens incluem enterografia por TC ou enterografia por ressonância magnética. Outro modo de avaliar o intestino delgado é com um exame de cápsula endoscópica.
– Colonoscopia: pacientes com pouca dor e mais diarreia realizam uma colonoscopia (um exame do intestino grosso com um tubo flexível para visualização) e uma biópsia (remoção de uma amostra de tecido para exame microscópio). Se a Doença de Crohn se limitar ao intestino delgado, a colonoscopia não detectará a doença, a menos que o colonoscópio seja avançado por todo o cólon e até a última parte do intestino delgado, onde a inflamação se situa com maior frequência.
Qual é a importância de repetir os exames complementares?
Como se trata de uma doença crônica, existe a necessidade de repetir os exames complementares. Estes fornecem informações acerca do estado e gravidade do distúrbio que, aliado aos sintomas, são a base para a otimização do tratamento da doença.
O que causa a Doença de Crohn? Ela tem cura?
A Associação Brasileira de Colite Ulcerativa e Doença de Crohn reitera que a patologia é crônica. Então, não é possível saber qual é a sua causa. Conforme a entidade, os medicamentos disponíveis reduzem a inflamação e habitualmente controlam os sintomas, mas não curam a doença.
Por sua vez, a Organização Brasileira de Doença de Crohn e Colite (GEDIIB), enfatiza que os fatores que desencadeiam esta enfermidade, realmente, ainda são desconhecidos. No entanto, como cerca de 20% das pessoas portadoras de Doenças Inflamatórias Intestinais têm alguém na família que também é portador, acredita-se que a hereditariedade pode influenciar. Especialistas também percebem que as pessoas que desenvolvem a doença podem ter alguma deficiência no sistema imunológico.
A GEDIIB salienta que diferentes fatores podem contribuir para o desenvolvimento da Doença de Crohn. Entre eles, estão:
- Desregulação do sistema imunológico;
- Genética;
- Condições da microbiota intestinal;
- Qualidade da dieta;
- Infecções prévias.
Qual é a relação entre o sistema imunológico e as Doenças Inflamatórias Intestinais?
A GEDIIB garante que o sistema imunológico é um complexo de células e proteínas que protegem o corpo de bactérias, vírus e outros organismos microscópicos. Um vírus ou bactéria desconhecidos podem ativar o sistema imunológico e, no indivíduo suscetível, esse sistema não desliga mais. E é isso que parece acontecer com as pessoas portadoras das Doenças Inflamatórias Intestinais, como a Doença de Crohn: ao invés de defender contra vírus e bactérias, o sistema imunológico se volta contra a pessoa e ataca os seus intestinos.
Quem pode desenvolver a doença?
Segundo a Organização Brasileira de Doença de Crohn e Colite, a Doença de Crohn pode ocorrer em homens e mulheres e, em grande parte dos casos, em parentes próximos das pessoas acometidas. A incidência é maior entre os 20 e 40 anos de idade. Fumantes são mais propensos a desenvolver o distúrbio.
Quais são os fatores de risco?
São vários os fatores que podem contribuir para o desenvolvimento da doença. Entre eles, estão:
– Histórico familiar: as chances aumentam se algum familiar próximo (como pais ou irmãos) já tiverem tido a doença;
– Tabagismo;
– Álcool;
– Alimentação desequilibrada, pobre em fibras e rica em gorduras e produtos industrializados;
– Sedentarismo;
– Estresse.
É possível ter a Doença de Crohn e manter a qualidade de vida?
A maioria dos doentes consegue ter uma boa qualidade de vida, com o uso de tratamento medicamentoso e cirurgia (quando necessária). Mas é importante que o paciente seja assistido em centros de referência, com equipes multidisciplinares, que englobem gastroenterologistas, cirurgiões e outros profissionais de saúde. Dessa forma, o indivíduo deve ser considerado nas suas múltiplas vertentes, dando atenção, também, a seus aspectos nutricionais e psicológicos. E vale ressaltar que, embora seja uma enfermidade crônica, a Doença de Crohn não é considerada uma doença fatal.
O Ministério da Saúde acrescenta que quase todas as pessoas que padecem desta doença mantêm uma vida útil e produtiva, apesar de algumas delas necessitarem de hospitalização nos períodos mais críticos. Contudo, entre os períodos de exacerbação da moléstia, a maioria dos pacientes sente-se bem e fica relativamente livre de sintomas, levando uma vida normal.
Que tipo de medicação é indicada?
A GEDIIB observa que o tipo de medicação vai depender da gravidade da doença e da parte do intestino afetada. Em geral, o objetivo do tratamento médico é controlar a inflamação. Por ser uma doença crônica e sem cura, o portador da Doença de Crohn deve receber medicamento a vida toda para manter a doença em remissão (dormindo, sem atividade). Este período de tranquilidade e controle da enfermidade pode durar meses ou até anos.
Como deve ser feito o tratamento para a Doença de Crohn?
O MS reforça, ainda, que o tratamento para a Doença de Crohn deve ser feito em etapas. Existe um sistema de mensuração da atividade da enfermidade, baseado no número de evacuações, dor abdominal, indisposição geral, ocorrência de fístulas e de manifestações patológicas à distância, que permite classificar a doença em leve, moderada ou grave. Se a doença é leve, o clínico apenas acompanha a evolução do paciente.
Como é o tratamento da Doença de Crohn?
O Manual MSD elenca os principais tratamentos da Doença de Crohn:
- Medicamentos antidiarreicos: podem aliviar cãibras e diarreia, incluem difenoxilato, loperamida, tintura de ópio desodorizado e codeína. Esses medicamentos são tomados via oral, preferencialmente antes das refeições.
- Aminossalicilatos: são medicamentos utilizados para tratar a inflamação causada pela Doença de Crohn. A sulfassalazina e medicamentos relacionados, tais como a mesalamina, a olsalazina e a balsalazida, são tipos de aminossalicilatos. Eles podem suprimir os sintomas e reduzir a inflamação, sobretudo no intestino grosso. Estas medicações são geralmente tomadas por via oral. A mesalamina também está disponível como supositório ou enema. Entretanto, estes medicamentos não funcionam tão bem para aliviar exacerbações graves.
- Corticosteroides: são administrados por via intravenosa (pela veia), tais como a metilprednisolona, e podem reduzir drasticamente a febre e a diarreia, aliviar a dor e a sensibilidade abdominais e melhorar o apetite e a sensação de bem-estar das pessoas hospitalizadas. No entanto, o uso prolongado de corticosteroides causa efeitos colaterais. Geralmente, altas doses são tomadas inicialmente para aliviar a inflamação e sintomas intensos causados pelas crises súbitas. A dose é, então, reduzida, e o medicamento é interrompido assim que possível.
- Medicamentos imunomoduladores: a azatioprina e a mercaptopurina são medicamentos que diminuem as ações do sistema imunológico. São eficazes para as pessoas com Doença de Crohn que não respondem a outros medicamentos, sendo particularmente úteis para manter longos períodos de remissão (sem sintomas). Eles melhoram significativamente o quadro clínico geral da pessoa, diminuem a necessidade de corticosteroides e, frequentemente, curam as fístulas. No entanto, esses medicamentos podem não trazer benefícios antes de um a três meses e podem ter efeitos colaterais potencialmente graves.
- Agentes biológicos: o infliximabe é outro modificador das ações do sistema imunológico. Este agente biológico é derivado de anticorpos monoclonais contra o fator de necrose tumoral (um agente denominado inibidor do fator de necrose tumoral ou inibidor do TNF). O infliximabe é administrado através de uma série de infusões por via intravenosa. Este medicamento pode ser usado para tratar pessoas com Doença de Crohn moderada a grave que não apresentam resposta a outras medicações, bem como para tratar pessoas com fístulas e para manutenção da resposta quando for difícil controlar a doença.
- Antibióticos: muitas vezes são receitados antibióticos que são eficazes contra muitos tipos de bactérias. O antibiótico metronidazol é a escolha mais frequente para o tratamento de abscessos e fístulas perianais. O metronidazol também pode ajudar a aliviar os sintomas não infecciosos da Doença de Crohn, como diarreia e cólicas abdominais. No entanto, quando administrado a longo prazo, o metronidazol pode danificar nervos, resultando em sensações de formigamento nos braços e nas pernas. Este efeito colateral geralmente desaparece quando o medicamento é suspenso, mas recidivas da Doença de Crohn são frequentes após a suspensão do metronidazol.
- Regimes alimentares: embora algumas pessoas aleguem que certas dietas ajudaram a melhorar a Doença de Crohn, elas não têm demonstrado serem eficazes em estudos clínicos. A terapia nutricional pode ajudar crianças a crescerem mais do que cresceriam de outra forma, especialmente quando administrada à noite através de uma sonda. Às vezes, são administrados nutrientes concentrados por via intravenosa para compensar a absorção deficiente de nutrientes; característica da Doença de Crohn.
Quando é preciso pensar em cirurgia? E quais são as novidades na área?
A Organização Brasileira de Doença de Crohn e Colite explica que alguns pacientes evoluem com complicações (como perfuração intestinal, fístulas, abscessos, estenoses e neoplasias), necessitando de tratamento cirúrgico, que pode ser desde a limpeza da região, drenagem até a retirada do segmento inflamado. Há ainda pacientes que não respondem a nenhum medicamento e podem precisar de cirurgia.
O Manual MSD confirma que a maioria das pessoas com Doença de Crohn necessita de cirurgia em algum momento ao longo da evolução de sua doença. Um procedimento para extrair as zonas afetadas do intestino pode aliviar os sintomas por um período indefinido. A Doença de Crohn tende a recorrer na região em que o restante do intestino delgado é religado, embora vários tratamentos medicamentosos iniciados após a cirurgia reduzam essa tendência.
Cerca de metade das pessoas precisam de uma segunda cirurgia. Assim, o procedimento é realizado apenas nos casos em que há complicações específicas ou quando a falha do tratamento medicamentoso a torna necessária. Contudo, a maioria das pessoas submetidas a uma cirurgia consideram que a sua qualidade de vida melhora após o procedimento.
Entretanto, alguns pacientes preferem recorrer a tratamentos alternativos e que prometem ser inovadores, como participar de pesquisas com novos fármacos ainda em estudo ou transplante de células tronco. O médico decidirá junto com o paciente qual caminho seguir para que tudo ocorra da melhor forma possível.
Qual é a importância da dieta para quem tem a Doença de Crohn?
O MS destaca que, apesar da alimentação não ser a causa desta doença, alimentos suaves e brandos agridem menos que os condimentados ou ricos em fibras, principalmente quando a doença está na fase ativa. Com exceção da restrição ao leite em pacientes com intolerância à lactose, muitos gastroenterologistas tendem a ser liberais nas dietas de pacientes portadores da doença.
Como prevenir a doença?
O diagnóstico precoce é a melhor forma de se antecipar às complicações e tratar a doença o quanto antes. Entre as boas práticas preventivas, estão:
– Adotar uma alimentação saudável, evitando produtos com aditivos alimentares, como conservantes, aromatizantes, espessantes e emulsificantes, além de açúcares refinados, por exemplo;
– Consumir frutas cítricas, como laranja, limão, tangerina, são baratas e associadas ao alto potencial protetor das Doenças Inflamatórias Intestinais (DII);
– Evitar bebidas alcoólicas;
– Não fumar;
– Manejar o estresse e manter cuidados com a saúde mental;
– Praticar atividade física regular.
Conclusão
A Doença de Crohn é uma doença inflamatória do trato gastrointestinal que merece atenção. Por ser crônica, pode ficar ativa por inúmeros motivos, até pelo estresse do paciente. Entre os seus principais sintomas estão a perda de peso e a diarreia, que pode acontecer de repente e com dores abdominais. Como ocorre com outras doenças, o diagnóstico precoce é a melhor forma de detectar e tratar do problema, antes que se agrave. Como a Doença de Crohn não é considerada fatal, felizmente quase todos os pacientes mantêm uma vida útil e produtiva.