Um quarto da população global, o que equivale a 2,5 bilhões de pessoas, viverá com algum grau de perda auditiva em 2050, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). A estimativa consta no primeiro Relatório Mundial sobre Audição da entidade internacional. Segundo a OMS, sem medidas preventivas e de tratamento, cerca 700 milhões de pessoas precisarão de acesso a cuidados auditivos e outros serviços de reabilitação.
No Brasil, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que resultaram da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), indicam que cerca de 1,2% dos brasileiros afirmam ter dificuldade para ouvir, mesmo usando aparelhos auditivos. Neste cenário, o implante coclear pode ser uma grande solução para o paciente.
Mas o que é o implante coclear?
A “cóclea” é a parte anterior da orelha interna, de forma espiralada, antigamente chamada de caracol. A Academia Estadunidense de Audiologia (“American Academy of Audiology”) elaborou um site especialmente para sanar todas as dúvidas da população mundial sobre o assunto. Na página, esclarece que o implante coclear é um dispositivo colocado cirurgicamente em um paciente com perda auditiva neurossensorial, que recebe um benefício limitado de aparelhos auditivos para ouvir com mais clareza.
Para quê serve o implante coclear?
A academia norte-americana observa que o implante coclear pode melhorar a consciência sonora e a compreensão da fala em ambientes silenciosos e ruidosos. Após a cirurgia, a instalação do implante coclear é feita por um fonoaudiólogo, que trabalha em estreita colaboração com o paciente e a equipe de atendimento para fornecer o acesso ideal ao som.
Qual é a diferença entre implante coclear e aparelho auditivo?
A entidade médica afirma que um aparelho auditivo tradicional torna o som mais alto e usa todo o sistema auditivo (ouvido externo, médio e interno) para receber e passar o sinal para o nervo auditivo e cérebro. O ouvido interno é preenchido com milhares de células pequenas e especializadas. Na perda auditiva neurossensorial, essas células são incapazes de receber o som e enviá-lo ao nervo, conforme necessário para fornecer clareza ideal. Um implante coclear é colocado cirurgicamente dentro da orelha interna, dentro da cóclea, e essencialmente substitui essas células delicadas. O implante então envia sinais elétricos diretamente para o nervo auditivo.
Como funciona o implante coclear?
A Academia Estadunidense de Audiologia informa que o implante coclear é um dispositivo de duas partes. A externa, chamada de processador, capta o som acústico. O processador de som é conectado ao implante com um ímã. O som é então processado e enviado através de um sinal de radiofrequência para o interior. Após receber o sinal, a porção interna o envia para os eletrodos colocados na cóclea. Os eletrodos encaminham pequenos pulsos para o nervo auditivo, que então envia o sinal para o cérebro.
Como são os implantes cocleares?
Para a instituição de Audiologia dos Estados Unidos, um processador de implante coclear se parece com um aparelho auditivo atrás da orelha, com um fio saindo das costas e levando a uma pequena bobina redonda do tamanho de uma moeda. Existem alguns processadores “off-ear” disponíveis, que ficam um pouco acima da orelha na cabeça, são ovais e ligeiramente maiores do que uma bobina atrás da orelha. Todos os processadores externos vêm em uma variedade de cores.
O implante coclear é o último recurso para um paciente com perda auditiva?
O implante coclear é uma opção quando o benefício das próteses auditivas é limitado. Entretanto, a Academia Estadunidense de Audiologia frisa que o implante coclear NÃO é um último recurso. Eles são uma opção quando os aparelhos auditivos não fornecem tanto benefício quanto o paciente precisa para ouvir e entender corretamente.
Realidade nacional
Em que situações o implante coclear é indicado no Brasil?
A Sociedade Brasileira de Otologia (SBO) explica que o uso de implante coclear é indicado para habilitação e reabilitação auditiva de pessoas que apresentem perda auditiva neurossensorial, de grau severo a profundo, mas que devem seguir alguns parâmetros, como faixa etária e época de instalação da surdez.
Segundo a SBO, quais são os perfis dos pacientes que podem ter indicação para receber um implante coclear no país?
De forma geral, respeitando a avaliação médica e critérios específicos, o implante coclear costuma ser indicado nos seguintes casos:
– Crianças com até 4 anos de idade incompletos, que apresentem perda auditiva neurossensorial, de grau severo e ou profundo bilateral;
– Crianças a partir de 4 até 7 anos de idade incompletos, que apresentem perda auditiva neurossensorial, de grau severo e/ou profundo bilateral;
– Crianças a partir de 7 até 12 anos de idade incompletos, que apresentem perda auditiva neurossensorial, de grau severo e ou profundo bilateral;
– Adolescentes a partir de 12 anos de idade, que apresentem perda auditiva neurossensorial pré-lingual (problema auditivo desde o nascimento) de grau severo e/ou profundo bilateral;
– Adolescentes a partir de 12 anos de idade, que apresentem perda auditiva neurossensorial pós-lingual, de grau severo e ou profundo, bilateral;
– Em adultos que apresentem perda auditiva neurossensorial pré-lingual de grau severo e ou profundo unilateral ou bilateral;
– Em adultos que apresentem perda auditiva neurossensorial pós-lingual (que nasceram com a audição normal e desenvolveram a perda ou surdez depois) de grau severo ou profundo unilateral ou bilateral.
Para quais pessoas não é recomendado o uso do implante coclear?
Conforme a SBO, este recurso não é indicado em casos de:
– Surdez pré-lingual em adolescentes e adultos não reabilitados por método oral (exceto nos casos de cegueira associada);
– Pacientes com agenesia coclear (má formação embriológica do ouvido interno) ou do nervo coclear bilateral;
– Contraindicações clínicas.
Quais são os brasileiros que têm indicação para o implante coclear?
De acordo com a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (CONITEC), do Ministério da Saúde, o implante coclear vem sendo indicado como uma opção de tratamento para pacientes, adultos e crianças, portadores de deficiência sensório neural profunda bilateral, que obtêm pouco ou nenhum benefício com aparelho de amplificação sonora individual.
A colocação de um implante coclear traz melhorias à vida dos indivíduos?
De acordo com a CONITEC, o implante coclear é considerado um recurso efetivo, permitindo melhora significativa na maioria das pessoas; sempre acompanhada de habilitação e/ou reabilitação auditiva. É um procedimento considerado de alta complexidade e especificidade, demandando a existência de serviços altamente especializados, equipes multiprofissionais, instalações e equipamentos bastante diferenciados. Vale ressaltar que quanto mais cedo o paciente for diagnosticado e tratado, seja por meio da cirurgia de implante coclear ou demais aparelhos auditivos, menores serão os danos causados para o desenvolvimento do indivíduo.
Benefícios x riscos do procedimento cirúrgico
Como é a cirurgia de implante coclear?
Segundo a Academia Estadunidense de Audiologia, a cirurgia de implante coclear é tipicamente um procedimento ambulatorial realizado por um otorrinolaringologista ou neurologista. Durante o procedimento, o indivíduo estará dormindo sob anestesia. O cirurgião criará uma incisão atrás da orelha e prosseguirá para o espaço da orelha média. Neste espaço, ele visualiza a cóclea e cria uma pequena abertura.
Assim, o implante é colocado no crânio e o eletrodo é lentamente guiado para a cóclea da orelha interna. Uma vez que isso esteja completo, o cirurgião ou fonoaudiólogo verificará a colocação do dispositivo com um raio-x ou testes preliminares. A cirurgia dura aproximadamente três horas.
Como é o pós-cirúrgico?
Ainda conforme a instituição norte-americana, após a cirurgia, a maioria dos pacientes vai para casa no mesmo dia e a orelha tem algum tempo para cicatrizar. Quatro semanas após a cirurgia, o implante coclear é “ativado”. O aparelho é programado pelo fonoaudiólogo.
O que acontece quando o implante é ativado? Como são os primeiros sons que as pessoas escutam?
Logo que o implante é ativado, os sons geralmente não são claros. De acordo com a Academia Estadunidense de Audiologia, algumas pessoas dizem que ouvem bipes e guinchos, enquanto outras dizem que ouvem vocês robóticas ou de desenho animado. Com o tempo, o desempenho auditivo melhora, mas esse processo requer prática e esforço. As maiores melhorias são notadas já nos primeiros três meses, mas pode levar até um ano para atingir o benefício máximo. Dentro do primeiro ano após a colocação do implante, o receptor deve retornar regularmente para atualizar as configurações do dispositivo com seu fonoaudiólogo.
Como é a reabilitação do paciente?
A academia lembra que o desenvolvimento e a experiência de cada pessoa podem ser diferentes, dependendo da causa da perda auditiva e de sua duração. O fonoaudiólogo orientará os receptores durante todo o processo e poderá ajudar a estabelecer expectativas realistas e formular estratégias de sucesso para cada situação individual.
A cirurgia para a colocação do implante coclear pode trazer complicações?
A entidade dos EUA considera que sim, entre eles:
– Riscos da anestesia geral;
– Lesão do nervo facial;
– Meningite;
– Fístula líquida (ou “vazamento” do líquido que circula ao redor do cérebro e da medula);
– Fístula do líquido perilinfático (presença de uma abertura entre a membrana de barreira que separa o ouvido médio do ouvido interno);
– Infecção de pele;
– Zumbido;
– Tontura;
– Alterações no paladar;
– Dormência ao redor da orelha
Como cuidar da saúde auditiva?
O Relatório Mundial sobre Audição, da OMS, pondera que quase 60% da perda auditiva poderia ser evitada com medidas, como imunização para prevenir a rubéola e a meningite, a melhoria dos cuidados maternos e neonatais, além da triagem e tratamento precoce da otite média.
Em adultos, o controle de ruídos, os níveis seguros de volume e a vigilância de medicamentos podem ajudar a manter uma boa audição e reduzir o potencial de perda auditiva.
Pergunte ao fonoaudiólogo
A academia norte-americana salienta que, aproximadamente, 98% das pessoas que podem ser boas candidatas ao implante coclear não o têm. Os internos são desenvolvidos para durar a vida toda. Já os processadores de implante coclear externo têm uma vida útil semelhante à de um aparelho auditivo: ou seja, de cinco a sete anos.
Para quem precisa usar aparelhos auditivos e, ainda sim, tem dificuldade significativa de comunicação, o dispositivo surge como uma excelente alternativa. Como outra cirurgia qualquer, apresenta alguns riscos, mas também traz inúmeras vantagens para o receptor, aumentando muito sua qualidade de vida. Portanto, é válido conversar com o fonoaudiólogo sobre os implantes cocleares.