Reconhecer um infarto do miocárdio (IM) ou ataque cardíaco no eletrocardiograma (ECG) é fundamental para o diagnóstico rápido e o tratamento adequado e pode ser imprescindível para salvar vidas e diminuir possíveis sequelas. Mas, antes disso, é preciso compreender alguns fatores, como o que causa um IM, quais são os seus sintomas, qual é a importância do eletrocardiograma, em quantos minutos deve ser feito e o que significam seus traçados e ondas.
O que pode provocar um infarto do miocárdio?
Síndromes coronarianas agudas (SCA) são o resultado de um bloqueio repentino em uma artéria coronariana. E é justamente este bloqueio que provoca um infarto do miocárdio ou uma angina instável, dependendo da localização e da intensidade do bloqueio. De forma sucinta, o IM é a morte do tecido cardíaco decorrente da falta de suprimento de sangue.
Quais são os sintomas mais comuns do infarto?
Conforme a Organização Mundial de Saúde (OMS) os sintomas mais comuns do infarto incluem:
- Dor ou desconforto no centro do peito;
- Dor ou desconforto nos braços, ombro esquerdo, cotovelos, mandíbula ou costas;
- Dificuldade para respirar ou falta de ar;
- Náuseas ou vômitos;
- Tontura ou desmaio;
- Suor frio e palidez;
- Sendo que a OMS observa que as mulheres são mais propensas do que os homens a ter falta de ar, náuseas, vômitos e dor nas costas ou na mandíbula.
Dados das doenças cardiovasculares no mundo
Ainda segundo a Organização Mundial de Saúde, as doenças cardiovasculares (DCV) são a principal causa de óbito em todo o planeta. Estima-se que 17,9 milhões de pessoas morreram de DCV em 2019, representando 32% de todas as mortes globais. Destas, 85% foram devido a infarto e derrame.
Números no Brasil
O Infarto Agudo do Miocárdio é a maior causa de mortes no país. O Ministério da Saúde (MS) projeta que ocorram de 300 mil a 400 mil casos anuais de infarto e que, a cada 5 a 7 destas situações, aconteça o óbito de um brasileiro. Para diminuir o risco de morte, o atendimento de urgência e emergência é fundamental para reverter o quadro e salvar uma vida.
Eletrocardiograma
Qual é a importância do exame de eletrocardiograma?
É necessário salientar que a dor torácica é o principal sintoma em um paciente com síndrome coronariana aguda (SCA). Por este motivo, o eletrocardiograma (ECG) deve ser realizado e interpretado o quanto antes pelo profissional médico, pois, conforme uma campanha do MS, “Cada segundo importa”.
Em quanto tempo o ECG deve ser realizado?
Um ECG padrão usa 12 eletrodos (chamado ECG de 12 derivações). Ele é a primeira ferramenta diagnóstica no manejo de pacientes com SCA suspeita. Idealmente, deve ser realizado e interpretado no atendimento pré-hospitalar ou em até 10 minutos após a admissão hospitalar.
Mas o que é o eletrocardiograma?
O eletrocardiograma é um exame que registra a atividade elétrica intrínseca das fibras miocárdicas. Em termos simples, é um método prático, facilmente repetível e barato de registrar a atividade elétrica do coração para observar se distúrbios mecânicos ou bioelétricos estão presentes.
O que, exatamente, o eletrocardiograma registra?
Durante um eletrocardiograma, os impulsos elétricos do coração são medidos, amplificados e registrados. Assim, o ECG, fornece informações sobre:
- A parte do coração que desencadeia cada batimento cardíaco (o marca-passo, chamado nó sinoatrial ou sinusal);
- As vias de condução nervosa do coração;
- A frequência e o ritmo do coração.
Às vezes, este exame pode mostrar que o coração está aumentado (por exemplo, possivelmente por uma hipertensão arterial) ou que o coração não está recebendo oxigênio suficiente devido a um bloqueio em um dos vasos sanguíneos que irrigam o coração (ou artérias coronárias).
Na prática, como é feito o exame de eletrocardiograma?
Para realizar o eletrocardiograma, um examinador coloca eletrodos (sensores redondos e pequenos que aderem à pele) nos braços, pernas e tórax da pessoa. Como dito anteriormente, um ECG padrão usa 12 eletrodos, que não contêm agulhas e são totalmente indolores. Se houver pelos espessos presentes, as áreas nas quais os eletrodos são aplicados podem ter que ser depiladas primeiro.
Estes eletrodos medem a magnitude e a direção das correntes elétricas no coração durante cada batimento cardíaco. Eles são ligados por cabos a uma máquina que produz um registro (traçado) para cada um deles e mostram a atividade elétrica do coração a partir de ângulos diferentes. Ou seja, o exame produz estes traços em um período curto (em torno de três minutos), sem risco nenhum ao paciente.
O que é o traçado eletrocardiográfico e o que representam as suas ondas?
O traçado do ECG é caracterizado por vários trechos denominados ondas, positivas e negativas, que se repetem a cada ciclo cardíaco e indicam a atividade específica do coração relacionada à propagação do impulso elétrico cardíaco.
O traçado normal do ECG tem uma aparência característica que só muda na presença de problemas: uma determinada patologia tende a resultar em uma alteração específica em um ou mais pontos do traçado, retornando ondas que são alteradas em altura, forma ou invertidas.
O que é a onda P em um eletrocardiograma?
A P é a primeira onda gerada no ciclo e corresponde à despolarização dos átrios. É pequena, pois a contração dos átrios não é tão poderosa. Sua duração varia entre 60 e 120 ms, e sua amplitude (ou altura) é de 2.5 mm ou menos.
O que significa o complexo QRS em um eletrocardiograma?
O complexo QRS corresponde à despolarização dos ventrículos e é formado por um conjunto de três ondas que se sucedem:
- Onda Q: é negativa e pequena, e corresponde à despolarização do septo interventricular;
- Onda R: é um pico positivo muito alto, e corresponde à despolarização do ápice do ventrículo esquerdo;
- Onda S: esta também é uma pequena onda negativa e corresponde à despolarização das regiões basal e posterior do ventrículo esquerdo. A duração de todo o complexo é entre 60 e 90 ms. A repolarização atrial também ocorre neste intervalo, mas não é visível, pois é mascarada pela despolarização ventricular.
E o que representa a onda T?
A onda T representa a repolarização dos ventrículos. Nem sempre é identificável porque também pode ter um valor muito pequeno.
E a onda U?
Esta é uma onda que nem sempre pode ser apreciada em um traço, devido à repolarização dos músculos papilares.
O que é o trato ST (ou segmento)?
O trato ST representa o período em que as células ventriculares estão todas despolarizadas e, portanto, nenhum movimento elétrico é detectável. Portanto, geralmente é isoelétrico, ou seja, colocado na linha de base do traçado, a partir do qual pode se mover para cima ou para baixo em não mais que 1 mm.
De que forma o ECG pode contribuir com o diagnóstico rápido?
A isquemia que ocorre durante um infarto do miocárdio normalmente produz uma supra ou subelevação do segmento ST, dependendo se a lesão é intramural, ou seja, envolvendo apenas a porção interna do miocárdio, ou transmural, que cruza toda a espessura do miocárdio.
A isquemia às vezes pode não estar associada a uma alteração imediata do segmento ST nas primeiras horas após o início sintomático, portanto, o elemento diagnóstico deve sempre ser interpretado por especialistas e complementado pelo ensaio enzimático. A sobre ou subelevação de ST está frequentemente associada à inversão da onda T, que representa a “memória elétrica” da isquemia recente.
E o que representa o intervalo QT?
O intervalo QT representa a sístole elétrica, ou seja, o momento em que ocorre a despolarização e repolarização ventricular. Sua duração varia conforme a frequência cardíaca, geralmente ficando entre 350 e 440 ms.
E o que é o intervalo RR tem a ver com a frequência cardíaca?
O traçado de ECG é compilado em papel milimetrado, que percorre o eletrocardiógrafo a uma taxa de 25 mm por segundo, de modo que cinco lados de quadrados de 5 mm representam 1 segundo. Portanto, a frequência cardíaca pode ser obtida imediatamente estimando quanto tempo passa entre um ciclo e o próximo (sendo que o tempo entre os dois picos R medido é chamado de intervalo RR).
Conheça, abaixo, como identificar os principais sinais de infarto no eletrocardiograma:
1. Elevação do segmento ST (STEMI)
– Descrição: a elevação do segmento ST é um dos sinais clássicos de um infarto agudo do miocárdio com supradesnivelamento do ST (STEMI).
– Interpretação: este achado sugere uma lesão transmural, onde toda a espessura da parede do miocárdio está envolvida.
2. Depressão do segmento ST e inversão da onda T (NSTEMI ou Isquemia Subendocárdica)
– Descrição: a depressão do segmento ST e a inversão da onda T indicam isquemia subendocárdica ou um infarto do miocárdio sem supradesnivelamento do ST (NSTEMI).
– Interpretação: indica isquemia parcial, afetando principalmente a parte interna do miocárdio.
3. Ondas Q patológicas
– Descrição: as ondas Q patológicas são indicativas de infarto antigo ou em evolução, representando necrose do músculo cardíaco.
– Interpretação: sinalizam que a área do miocárdio sofreu infarto e necrose.
4. Alterações recíprocas
– Descrição: alterações opostas ao segmento ST e à onda T nas derivações opostas às que mostram elevação de ST.
– Interpretação: confirma o diagnóstico de STEMI, como, por exemplo, a parede inferior (derivações DII, DIII e aVF) com alterações recíprocas na parede lateral alta (derivações DI e aVL).
5. Alterações específicas por localização
– Parede anterior: elevação do ST em V1 a V4, sugerindo infarto da parede anterior (artéria descendente anterior esquerda).
– Parede lateral: elevação do ST em DI, aVL, V5 e V6, indicando infarto da parede lateral (artéria circunflexa).
– Parede inferior: elevação do ST em DII, DIII e aVF, sugerindo infarto da parede inferior (artéria coronária direita).
– Parede posterior: elevando do ST em V7-V9 ou depressão do ST em V1-V3 com ondas R altas (artéria circunflexa ou coronária direita).
Quais são os erros mais comuns na interpretação do ECG?
– Variante normal (repolarização precoce): pode imitar a elevação do ST, sendo comum em jovens e atletas.
– Bloqueio de ramo esquerdo: dificulta a interpretação do ST; critérios como os de Sgarbossa ajudam a identificar um infarto neste contexto.
– Pericardite: causa elevações difusas do ST sem alterações recíprocas e com desvio de PR.
Como deve ser a abordagem diagnóstica?
- Correlação clínica: sempre é preciso correlacionar os achados do ECG com a história clínica do paciente, sintomas e exames laboratoriais, como os níveis de troponina.
- Monitoramento contínuo: o ECG deve ser repetido ao longo do tempo para observar a evolução das alterações, especialmente se o quadro clínico mudar.
Conclusão
Reconhecer as alterações do infarto no eletrocardiograma é essencial para a implementação imediata de terapias, que podem melhorar significativamente a sobrevida e o prognóstico do paciente. O exame deve ser realizado e interpretado, preferencialmente, em até 10 minutos após a admissão hospitalar. Para evitar interpretações erradas, é preciso relacionar o resultado do ECG com a história clínica do paciente, seus sintomas e demais exames laboratoriais. O conhecimento nesta área é fundamental para salvar vidas, uma vez que as doenças cardiovasculares são a principal causa de óbito no mundo.