Você já ouviu falar em semiologia médica? O termo parece complexo, mas, na verdade, a semiologia é uma ciência que estuda todos os sistemas de signos na vida social, quer linguísticos (vinculados à semântica e à escrita) quer semióticos (signos humanos e da natureza).
O que estuda a semiologia médica?
A semiologia especificamente relacionada à medicina, também chamada de propedêutica, integra a biomedicina, a fisioterapia, a fonoaudiologia, a odontologia, a enfermagem, entre outros. E ela está relacionada ao estudo dos sintomas e dos sinais das doenças apresentados pelos pacientes, sendo fundamental para a prática clínica, pois permite aos profissionais de saúde realizar diagnósticos precisos e, assim, planejar tratamentos adequados.
O que significa o termo Semiologia Médica?
Para compreender melhor, é necessário lembrar que a expressão “semiologia médica” vem do grego, no qual une as palavras “semeîon” (sinais) mais “logos” (estudo). Assim, ela é a “arte de examinar”.
Por meio da semiologia o especialista pode conhecer não apenas as queixas do paciente, mas também ter um plano geral do seu estado: suas condições sociais, seus hábitos, sua personalidade, influências genéticas, etc.
Contudo, hoje muitos especialistas acabam não realizando mais esse processo em seus pacientes, deixando de fazer, assim, uma avaliação clínica mais detalhada. Por meio do processo de semiologia poderia se eliminar a necessidade de solicitação de muitos exames, tendo o especialista uma conversa com o paciente e um maior contato físico para identificar problemas através da avaliação clínica.
E para que haja uma semiologia precisa, é de extrema importância que o médico tenha o devido conhecimento da fisiologia dos órgãos e também dos sistemas. Apenas desta forma poderá realizar uma avaliação de maneira adequada e com segurança.
O que é a semiotécnica?
Vale lembrar que existe um outro termo que costuma surgir com a semiologia médica que é a semiotécnica. Trata-se da ação que o especialista realiza após realizar o exame, após a avaliação. Assim, a ação a ser tomada é chamada de “semiotécnica”. Este é um campo de estudo que compreende diferentes técnicas usadas pela área da enfermagem.
Sinais não-verbais
Entretanto, a semiologia médica não é restrita a sintomas expressados verbalmente. Assim, os estudantes de medicina precisam observar os sinais não-verbais. Isto é fundamental para compor o diagnóstico do indivíduo, da melhor forma possível, durante o exame físico. Afinal, mesmo com os avanços tecnológicos dos últimos anos, a observação clínica segue como uma peça chave da consulta. Esta primeira conversa é essencial para identificar o diagnóstico e o tratamento das doenças, de acordo com o livro “Semiologia Médica”, de Celmo Celeno Porto e Arnaldo Lemos Porto.
Perspicácia de um detetive
O artigo “Reflexões sobre o Ensino da Semiologia Médica“, divulgado na Revista Brasileira de Educação Médica, ressalta a necessidade de conscientizar não só o aluno, mas também os professores de medicina sobre a importância do ensino da semiologia. Conforme a publicação, é provável que os próprios professores venham de uma formação deficiente sobre os conceitos semiológicos.
“Aos alunos, é imprescindível alertá-los não apenas sobre o porquê de aprender semiologia, mas também de como aprendê-la e adequá-la a uma sociedade que, cada vez mais, tem acesso à informação e exige o direito de ser bem atendida. Em geral, ao se defrontar com o paciente, o estudante é tomado pela pressa em resolver o problema de saúde que aflige o consulente. A minuciosa busca dos achados semiotécnicos pode parecer cansativa e desencorajar os menos experimentados”.
“A investigação dos sinais e sintomas que o paciente apresenta exige que o examinador tenha a paciência e a perspicácia de um detetive no intuito de reunir o maior número de pistas e estudá-las em profundidade. É preciso que a formação semiotécnica seja um treinamento continuado pela repetição frequente e metódica das técnicas, visando ao desenvolvimento das habilidades e segurança requeridas, obtidas ao longo do tempo”, explica o conteúdo.
Aptidões de aprendizagem
O que é preciso saber?
A obra “Semiologia Médica – Princípios, Métodos e Interpretação”, de J. L. Ducla Soares, escrita em Lisboa (Portugal), justifica que este tema aborda a obtenção dos dados relevantes da evolução temporal das queixas e do exame físico, constituindo a base da compreensão do ser humano doente.
Para o autor, o domínio da semiologia é muito complexo, e de aquisição demorada e trabalhosa, implicando o domínio de vários componentes:
– Conhecimento da fisiologia normal e dos múltiplos mecanismos da doença;
– Mestria (ou primor) dos métodos e técnicas de colheita de informações, sejam elas a história clínica, a observação psicológica ou o exame físico;
– Capacidade de interpretação dos dados recolhidos.
Características intangíveis
A estas aptidões mensuráveis e suscetíveis de aprendizagem programada deve associar-se, ainda, um componente difícil de definir, mas que repetidamente têm sido designado de “arte”: algo de intrinsecamente humano, intangível e, no entanto, essencial, suscetível de enformar (ou colocar em forma) os outros conteúdos numa síntese holística.
- L. Ducla Soares defende que a despersonalização da figura do Mestre, a prática de uma medicina defensiva, as carências de tempo, o afastamento entre sêniors e médicos em formação, têm explicado a predominância (ou, segundo ele, a prepotência) crescente dos meios complementares de diagnóstico, na avaliação dos doentes, e afastado o ensino e prática da semiologia do lugar preponderante que deve necessariamente ocupar.
“Desde sempre envolvidos no ensino prático, à cabeceira do doente, local privilegiado do ensino clínico, onde os dados de anatomia, fisiologia, mecanismos de doença se aplicam diretamente na visão global do doente, temos procurado formar eficazmente os nossos alunos e colaboradores e inculcar (imprimir) no seu espírito a imprescindibilidade do domínio desta competência”, garante.
Quais são as principais técnicas e habilidades que a semiologia médica abrange?
Compreenda os dois tipos:
- Anamnese: é o ato de fazer o paciente recordar o que sente e relatar isso para o médico. Tal termo provém do grego “anámnesis”, que significa “ato de trazer algo à memória” ou simplesmente “lembrança”. Tal método é fundamental para o diagnóstico e tratamento adequados do paciente, sendo uma das funções do profissional de saúde quando ocorre o atendimento do paciente.
Geralmente, é o histórico de todos os sintomas relatados pelo paciente sobre um caso clínico. Mas ela também pode ser considerada como uma lembrança incompleta ou remanescente. Ficha de Anamnese, Anamnese Corporal ou Anamnese Corporal Completa são outros termos médicos que são utilizados para denominar este método, aplicado para o diagnóstico inicial.
Quando corretamente obtida, os dados fornecidos pela anamnese permitem o diagnóstico em cerca de 90% dos casos, o que a levou a ser considerada “a pedra angular de todo o processo diagnóstico”. É preciso saber que o conteúdo expresso pelos doentes é a tradução de algo mais do que o relato objetivo dos seus padecimentos. Ele veicula as percepções da sua doença, os seus receios, enfim, a vivência psicológica do seu mal e este constitui, frequentemente, um mecanismo secundário de doença a que é preciso estar particularmente atento.
- Exame Físico: é a avaliação detalhada do corpo do paciente, utilizando métodos como inspeção, palpação, percussão e ausculta. No exame físico, o médico trata de fazer a reunião e análise de aspectos fisiológicos do paciente, enquanto que na anamnese ocorre algo como uma entrevista, que é feita pelo médico ao paciente, estando este último submetido a uma série de perguntas que serão essenciais para que o profissional consiga realizar um diagnóstico adequado.
Anamnese X Amnésia
É comum que algumas pessoas confundam a anamnese com a amnésia, mas apesar de ambas terem relação com a memória, enquanto a anamnese trata de ajudar o paciente a se lembrar de suas queixas médicas, a amnésia se trata da uma condição onde há a perda total ou parcial da memória, podendo estar ou não relacionada com alguma doença neurológica ou sendo o resultado de algum trauma físico (como uma pancada na cabeça).
Técnicas da anamnese
Não existe uma maneira única de aplicar a anamnese, pois cada profissional possui o seu modo de fazê-la. No entanto, há metodologias que podem contribuir para a aplicação deste método, que são:
– A técnica do interrogatório cruzado;
– A técnica de escuta.
Diferenças básicas
Na técnica do interrogatório cruzado, o examinador (ou profissional médico) conduzirá as perguntas para o paciente no momento da consulta. Já na técnica de escuta, isto é feito quando é a hora do paciente falar, então o profissional criará um espaço que seja confortável para que o indivíduo consiga relatar suas queixas e angústias usando as suas próprias palavras.
Conclusão
Ambas as técnicas de anamnese são complementares em uma consulta inicial, ajudando a se chegar em um diagnóstico preciso, ainda mais quando se trata de psiquiatria, que apresenta certos desafios clínicos. Então, a semiologia é uma disciplina essencial na formação médica, pois fornece a base para a identificação de doenças e a tomada de decisões clínicas. Portanto, é preciso que os profissionais médicos atuais e das próximas gerações sigam aplicando estes conhecimentos em prol da qualidade do atendimento oferecido aos seus pacientes e um melhor diagnóstico e tratamento de saúde.