Um acompanhamento regular que objetiva a proteção e a promoção da saúde das crianças, a puericultura viabiliza a identificação precoce de quaisquer distúrbios relativos ao desenvolvimento
Por ser voltada à detecção precoce de problemas, a puericultura se distingue tanto do diagnóstico quanto do tratamento clínico. Afinal, por meio dela, um indivíduo é acompanhado de 0 a 19 anos de modo integral. Assim, a partir da observância do histórico de crescimento, torna-se viável reconhecer atrasos ou falhas em aspectos específicos.
Isso permite que ocorra uma intervenção logo que as alterações são identificadas. Em geral, é possível dizer que a puericultura desempenha um papel essencial no apoio à amamentação, no suporte vacinal, na introdução alimentar e no monitoramento dos elementos de risco que surgem ao longo da vida do paciente.
E então? Quer entender mais a fundo o que é a puericultura e qual é a relevância dela para o desenvolvimento infantil? Continue a leitura!
O que é puericultura?
É possível definir a puericultura como o conjunto de consultas periódicas de uma criança. Nesse caso, o propósito é analisar todo o desenvolvimento e o crescimento de um modo mais próximo.
Ao longo das consultas, é importante que o profissional ofereça orientações educativas e ações de promoção da saúde. Além disso, ele deve instruir quanto à prevenção do surgimento de doenças e observar quais são as vulnerabilidades e os riscos aos quais o paciente infantil está sujeito.
Cuidar de uma criança é uma missão desafiadora, que demanda atenção plena e grande dedicação. Para que a tarefa não seja “solitária”, essa especialidade médica dentro da pediatria realiza uma espécie de avaliação 360º. Ou seja, de todo o processo, abrangendo alguns aspectos, como:
- a saúde oral;
- o rendimento escolar;
- a audição;
- a visão;
- o desenvolvimento intelectual;
- a cobertura vacinal;
- o histórico alimentar;
- o estado nutricional;
- o desenvolvimento neuropsicomotor.
São considerados também a relação e o histórico familiar da criança. Logo, pode-se dizer que a puericultura vai além do exame clínico, baseando-se na escuta, inclusive.
Para que exatamente ela serve?
A puericultura se diferencia de uma consulta simples ao pediatra, por exemplo, quando a criança é levada ao médico por apresentar algum sintoma específico ou eventuais alterações. Nessa ciência, não há necessidade de haver um “motivo” para o acompanhamento. Na verdade, a ideia é de que ela esteja presente ao longo de todo o desenvolvimento infantil, monitorando sinais positivos ou negativos.
Logo, ela é importante independentemente de o paciente ter (ou não) uma condição clínica que exija cuidados constantes. A compreensão do contexto, da origem e do ambiente no qual a criança está inserida é extremamente indispensável para um cuidado humanizado e completo em termos de saúde.
Além disso, quando se trata de medicina preventiva, o conhecido lema “prevenir é melhor que remediar” faz total e completo sentido.
Como a puericultura funciona para os recém-nascidos?
É importante destacar que a especialidade deve fazer parte tanto da vida dos pais quanto da vida do bebê. O ideal é recorrer à puericultura já por volta do terceiro trimestre de gestação com o objetivo de cuidar da saúde materna. Assim, trata-se também a saúde da criança em desenvolvimento.
Já após o nascimento, é altamente recomendável que a consulta ocorra ainda nos primeiros dias de vida. Ou seja, de sete a dez dias.
A frequência
Quanto à frequência, a Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda que as consultas de puericultura ocorram com a seguinte regularidade:
- de zero a seis meses — mensalmente;
- de seis meses a 12 meses — bimestralmente;
- de 12 meses a 18 meses — trimestralmente;
- de um ano e seis meses a cinco anos — semestralmente;
- de cinco anos a 18 anos — anualmente.
Assim, o profissional da área da saúde tem a oportunidade de analisar o quadro de desenvolvimento infantil. Além disso, a frequência indicada permite a verificação do cartão vacinal em períodos oportunos.
No caso de crianças e adolescentes, qual é a relevância da puericultura?
É fundamental que o acompanhamento da evolução infantil se estenda até o fim do período da adolescência, mas a frequência recomendada não é tão grande quanto nos meses iniciais de vida. Durante o período, são observadas algumas questões, como:
- higiene geral;
- nutrição apropriada;
- inadaptações e adaptações na fase escolar;
- imunização;
- prevenção da obesidade;
- acompanhamento de questões emocionais e psicoafetivas, além de outros pontos importantes.
O vasto número de fatores que estão relacionados ao desenvolvimento de um indivíduo torna a puericultura uma prática que requer um time multidisciplinar de profissionais. Ou seja, uma equipe que, por exemplo, seja composta por enfermeiros, médicos, psicólogos, educadores etc.
Nesse contexto, a conscientização das famílias é um dos aspectos de maior peso. Ao longo de todas as etapas do crescimento, é imperativo que os profissionais da área da saúde orientem os responsáveis acerca da importância de acompanhar de perto todo o histórico de saúde dos filhos. A finalidade é a adoção de práticas de cunho preventivo que possam garantir um futuro mais saudável.
Como realizar a anamnese na puericultura?
O especialista puericultor não é um médico generalista. Na verdade, é um pediatra que se especializa no acompanhamento do crescimento e do desenvolvimento neurológico, motor e cognitivo-psicológico de bebês, crianças e adolescentes, bem como no suporte às famílias. Isso é possível por meio de uma pós-graduação.
A anamnese
Atualmente, a puericultura é humanizada. Isso requer dos profissionais um exercício contínuo e genuíno de consideração pelos pacientes, incluindo os sentimentos e as angústias, o que envolve, por exemplo, a anamnese.
Esse é o processo em que os responsáveis ou até o próprio paciente fornecem dados que auxiliarão o profissional a determinar informações importantes e qualquer eventual histórico. Nesse estágio, é possível identificar a relação que se estabelece entre a criança e o microambiente no qual ela está inserida, exigindo interpretação.
Antes do início do procedimento, é imperativo que o médico se apresente e diga a razão da consulta. A direção e a extensão do atendimento variam de acordo com as circunstâncias.
Mesmo quando a anamnese é mais curta, questionamentos diretos precisam ser feitos com a cautela de não dirigir as respostas e nem de induzi-las a apenas “sim” e/ou “não”. Por exemplo, ao buscar se informar sobre a alimentação do bebê, é interessante não usar perguntas como: “Ele se alimenta bem?”.
É preferível usar: “Como ele vem se alimentando?”. Lembre-se de que é indispensável ouvir tanto o paciente quanto os familiares. Inclusive, é essencial que esses últimos consigam estabelecer uma relação de cooperação mútua com o puericultor, vendo-o como um profissional a quem podem recorrer em caso de dúvidas.
O que compõe o roteiro de anamnese?
O roteiro de anamnese padroniza o registro da entrevista e é tradicionalmente composto por estágios, como elencado a seguir.
Identificação
O primeiro estágio da anamnese é a identificação, que compreende, por exemplo:
- nome completo;
- data do nascimento;
- idade atual;
- sexo,
- naturalidade;
- nome do informante e relação de parentesco com a criança;
- fidedignidade presumida do informante;
- data da consulta, entre outras informações.
Queixa Principal (ou motivo da consulta)
Em seguida, são registrados eventuais queixas e objetivos relacionados ao tratamento, com o uso das palavras do informante e uma numeração que respeite as prioridades.
História da Doença Atual
Já o terceiro estágio diz respeito a um resumo cronológico de possíveis problemas que se apresentam, envolvendo:
- a duração;
- as intervenções prévias;
- os procedimentos terapêuticos, orientados ou não por um profissional de saúde.
Revisão de Sistemas
Em seguida, a revisão de sistemas consiste em um questionário sobre os diversos aparelhos e sistemas, como o digestório, o respiratório, o nervoso, o musculoesquelético etc.
Supervisão de Saúde
Depois disso, é indicado realizar a supervisão de saúde, englobando, por exemplo:
- teste de triagem;
- história vacinal;
- prática de exercícios físicos;
- cuidados dentários.
História Perinatal
Essa etapa considera o número de consultas pré-natais, os testes sorológicos, as eventuais intercorrências na gestação, o tipo de parto, a idade gestacional, o comprimento e o peso no nascimento etc.
Crescimento
Já no estágio “crescimento”, há a utilização de curvas padronizadas para o monitoramento do crescimento, bem como:
- a verificação de existência de uma tendência à obesidade ou ao emagrecimento;
- a análise do desenvolvimento de caracteres sexuais e secundários.
Desenvolvimento
Na etapa seguinte, são abordados outros fatores, como a conquista de marcos do desenvolvimento, o processo de adaptação e o rendimento escolar.
História Patológica Pregressa
Na história patológica pregressa, há o resumo de alguns importantes indicativos, como:
- doenças significativas;
- internações;
- traumas;
- cirurgias;
- alergias etc.
História Alimentar
Esse estágio já diz respeito a um período de amamentação exclusivo, ao início do processo de desmame, à aceitação dos alimentos pela criança, ao padrão alimentar atual, entre outros.
História Social
Na história social, por fim, temos, por exemplo, o perfil socioeconômico, as condições de saneamento básico, a formação educacional e a situação conjugal dos pais etc. É fundamental que a anamnese seja completa, não apenas abrangendo os elementos de uma anamnese comum, mas também:
- os antecedentes pessoais da criança com dados desde a concepção e questionamentos acerca da gestação, do nascimento e do período neonatal;
- o desenvolvimento neuropsicomotor (DNPM), em que é preciso coletar um relato familiar acerca do aparecimento de habilidades motoras, da aquisição de linguagem falada e gestual, do controle esfincteriano e do desenvolvimento socioafetivo da criança com membros da família e amigos;
- os antecedentes vacinais, não apenas registrando as vacinas tomadas e os períodos, mas também quaisquer eventos adversos sistêmicos ou locais;
- a história de formação familiar, a relação dos pais e a aceitação da criança no processo;
- a habitação, para compreender as condições de vida e de saúde do paciente e da família, verificando se há fatores de risco para doenças infecto-parasitárias, respiratórias e dermatológicas;
- os hábitos da criança, desde os alimentares até os relativos à higiene e às atividades de lazer.
O pediatra, por fim, precisa repassar as orientações necessárias para que sejam promovidos os adequados cuidados à saúde da criança. As áreas de preocupação incluem, por exemplo:
- escolhas alimentares saudáveis, evitando o excesso de açúcar, sal, colesterol, carboidratos e gorduras trans e hidrogenadas;
- prevenção de acidentes e de possíveis intoxicações;
- questões relativas ao comportamento e ao desenvolvimento, desaconselhando as atividades sedentárias em excesso e incentivando a prática esportiva periódica.
Além disso, a linguagem utilizada precisa ser clara, com o emprego de palavras fáceis e fornecidas aos responsáveis por escrito. As comunicações estruturadas são consideradas grandes aliadas e se valem da estratégia de educação em saúde e da incorporação de meios modernos, como folders, audiovisual etc.
No entanto, o profissional deve ter consideração e tato no momento de transmitir as suas mensagens e assumir posições mais firmes em algumas recomendações. Isso, é claro, desde que sejam evitadas expressões humilhantes, pejorativas ou com tom de censura.
Como visto, a puericultura representa o pilar, “a pedra angular da pediatria”, responsável pela promoção da saúde, pelo bom desenvolvimento e pelo crescimento das crianças. Essa especialidade objetiva proteger o paciente contra quaisquer agravos que tenham o potencial de interferir na evolução física e mental.
E você? Tem interesse em cursar uma pós-graduação em pediatria, que pode capacitá-lo, por meio de aulas teóricas e práticas, para atuar em unidades de emergência, pronto-atendimento, hospitais, clínicas e diversas outras áreas?