A Inteligência Artificial já é uma realidade na vida de todos. Desta forma, pode ser facilmente encontrada em smartphones, drones e em quase todos os serviços utilizados. Inclusive, nas aulas de Medicina com tecnologia de ponta, que se utilizam da realidade virtual, como a da MedRoom. Lá, está a Inteligência Artificial. E, assim, as possibilidades só aumentam.
Como a Inteligência Artificial é vista globalmente
Qual é o espaço da Inteligência Artificial na área da saúde?
Na saúde, a IA vem ganhando cada vez mais espaço e investimentos nos últimos anos. E o melhor: cada real investido em tecnologia já está sendo revertido em economia para o setor. Desta forma, além de diminuir os custos, a IA encurta as distâncias e agiliza os atendimentos. Logo, proporciona a realização de consultas por telemedicina, assegurando o diagnóstico ainda mais preciso de inúmeras doenças. Além disso, testa novas medicações, ampliando as pesquisas no segmento e até protagonizando cirurgias complexas com braços robóticos.
A Inteligência Artificial pode nortear a transformação digital na saúde?
A Inteligência Artificial está entre os oito princípios orientadores para a transformação digital na área, segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). Em suma, o dado integra uma publicação oficial da entidade, que visa contribuir para a cooperação mundial sobre o tema e as tecnologias emergentes.
Quais são os critérios para a promoção da IA na área da saúde?
A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a OPAS recomendam que os países promovam a Inteligência Artificial na saúde com:
- Equidade;
- Marcos regulatórios;
- Alfabetização digital.
Qual foi a importância da IA durante a pandemia?
Como exemplo positivo, as organizações globais destacaram a importância do uso de ferramentas da Inteligência Artificial para diagnosticar a COVID-19, por meio de imagens de tomografia computadorizada. Como resultado, através delas, foi possível acelerar o diagnóstico e o tratamento dos pacientes, em vários países do mundo.
Como a saúde digital pode ser transformadora? E qual foi o exemplo brasileiro?
A OPAS ressalta, ainda, que na Região das Américas a saúde digital provou ser uma força transformadora, melhorando significativamente a capacidade de fornecer serviços de saúde de qualidade a diversas populações. Nesse sentido, menciona o Brasil, que implantou serviços de telemedicina durante a pandemia, expandindo o acesso à saúde para mais de 70 milhões de brasileiros, especialmente moradores de áreas remotas. Com isso, também aliviou a carga sobre as instalações de saúde urbanas.
Quais são os maiores desafios da IA na saúde?
Entre os desafios, a OPAS garante que a lacuna digital é um problema crítico, principalmente em relação às comunidades que vivem em situação de vulnerabilidade, carecendo de infraestrutura e de alfabetização digital. Por este motivo, reforça a importância de estratégias de saúde digital específicas e adaptadas aos contextos, com uma abordagem coletiva que promova o compartilhamento de conhecimentos e contribua para o avanço das prioridades globais deste setor.
A Organização Pan-Americana da Saúde também chama a atenção para questões que precisam ser superadas na abordagem de IA, como conjuntos de informações que não representam adequadamente a diversidade da população. Como uma das soluções propostas, a Organização está implementando a iniciativa “Data for Equity” (Dados para a Equidade), que visa coletar dados desagregados.
O que é a Iniciativa Global em Saúde Digital da OMS?
A Organização Mundial da Saúde também apresentou a “Iniciativa Global em Saúde Digital” (ou “Global Initiative on Digital Health” – GIDH), que visa apoiar a transformação digital liderada pelos países através de parcerias, convergência de recursos e infraestrutura pública digital robusta. No primeiro ano de implementação, se concentra em operacionalizar o engajamento dos países para aumentar a transparência das suas necessidades e prioridades, bem como ampliar a transparência dos recursos e configurar a estrutura para a operacionalização.
A iniciativa é uma rede gerenciada pela OMS com organizações, instituições e agências técnicas governamentais ativamente engajadas no apoio à transformação digital da saúde nacional. Criada como um veículo para ajudar a acelerar a implementação da Estratégia Global para a Saúde Digital, estimula a colaboração e a troca de conhecimento.
Quais são os objetivos da Iniciativa Global em Saúde Digital?
Formalmente iniciada em 20 de fevereiro de 2024, pretende:
– Avaliar e priorizar as necessidades dos países para uma saúde digital sustentável e transformadora;
– Aumentar o alinhamento dos recursos recebidos;
– Ampliar o alcance da “Estratégia global de saúde digital 2020-2025”;
– Capacitar e convergir esforços para incentivar o desenvolvimento local, além de realizar a manutenção e adaptação das tecnologias digitais da saúde.
De que forma o mundo pode aproveitar as tecnologias emergentes?
Neste sentido, a OPAS e a OMS orientam que, sobretudo, os países pertencentes ao Grupo dos Vinte (G20) contribuam com o compartilhamento de experiências e com estratégias para que “o mundo possa estar mais bem preparado para aproveitar as tecnologias emergentes sem deixar ninguém para trás”. O alerta foi dado pelas instituições durante o encontro da 3ª Reunião do Grupo de Trabalho (GT) da Saúde do G20, que aconteceu no início de junho, em Salvador (BA). Na ocasião, os membros da OMS e da OPAS salientaram a rápida evolução das tecnologias para as prioridades de saúde mundial.
O que é, mesmo, o G20?
Vale lembrar que o Grupo dos Vinte (G20) é um fórum de cooperação econômica internacional que se concentra em temas como saúde, comércio, desenvolvimento sustentável, agricultura, energia, meio ambiente e mudanças climáticas. O G20 é composto por 19 países (África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia e Turquia) e dois órgãos regionais: a União Africana e a União Europeia.
A OMS apoia o uso da IA na saúde?
Segundo a Organização Mundial da Saúde, a entidade apoia a adoção da Inteligência Artificial para o segmento, com base científica. O foco é garantir que os avanços da IA contribuam para a saúde global:
- De forma segura;
- Ética;
- Equitativa;
- Com governança;
- Com regulamentação.
A OMS reconhece o imenso potencial da IA para revolucionar a saúde e está sempre empenhada a orientar sobre governança, padrões éticos e regulamentos para lidar com as oportunidades e desafios do setor, mitigar riscos, proteger o público e fomentar a confiança no uso da IA na saúde. Alguns destes tópicos estão no material disponibilizado no portal da Organização.
Quais são os benefícios e riscos da AI na saúde, segundo a OMS?
Em um vídeo explicativo divulgado pela Agência da Organização das Nações Unidas (ONU), a OMS também propôs diretrizes éticas para “Grandes Modelos Multimodais” na área, destacando, novamente, benefícios e riscos. Entre as recomendações necessárias para garantir uma saúde global transparente e ética, estão a criação e o desenvolvimento de:
- Padrões;
- Uma agência reguladora;
- Auditorias;
- Envolvimento colaborativo.
A Inteligência Artificial e Mundo tecnológico
Mas o que é a Inteligência Artificial?
De acordo com a “National Aeronautics and Space Administration” (NASA), a Inteligência Artificial refere-se a sistemas computacionais que podem executar tarefas complexas normalmente feitas por raciocínio humano, como tomada de decisão e criação.
A NASA explica que usa com segurança uma ampla variedade de ferramentas de Inteligência Artificial para beneficiar a humanidade e que a IA ajuda:
– A apoiar missões e projetos de pesquisa;
– Analisar dados para revelar tendências e padrões;
– Desenvolver sistemas capazes de apoiar espaçonaves e aeronaves de forma autônoma.
Todavia, a própria agência governamental norte-americana, que atua com o que há de mais moderno no planeta, afirma que não há uma definição única e simples sobre o tema, pois as ferramentas de IA são capazes de uma ampla gama de tarefas e soluções.
Como definir o que é a IA?
A NASA segue o que consta na Lei de Autorização de Defesa Nacional de 2019, que aborda o “Uso de Inteligência Artificial Confiável no Governo Federal”, elucidando que a IA seria:
– Qualquer sistema artificial que execute tarefas em circunstâncias variadas e imprevisíveis sem supervisão humana significativa ou que possa aprender com a experiência e melhorar o desempenho quando exposto a conjuntos de dados;
– Um sistema artificial desenvolvido em software de computador, hardware físico ou outro contexto que resolve tarefas que exigem percepção, cognição, planejamento, aprendizagem, comunicação ou ação física semelhantes às humanas;
– Um sistema artificial projetado para pensar ou agir como um humano, incluindo arquiteturas cognitivas e redes neurais;
– Um conjunto de técnicas, incluindo aprendizado de máquina que é projetado para aproximar uma tarefa cognitiva;
– Um sistema artificial projetado para agir racionalmente, incluindo um agente de software inteligente ou robô incorporado que atinge metas usando percepção, planejamento, raciocínio, aprendizagem, comunicação, tomada de decisão e ação.
Mercado em expansão
A IA recebe investimentos para inovar o setor saúde?
O Relatório do Índice de IA 2022 (ou “Artificial Intelligence Index Report 2022”), divulgado pela Fast Company Brasil e elaborado pela Universidade de Stanford, garante que o setor privado investiu US$ 11,3 bilhões em pesquisa e inovação com IA para medicina e saúde em 2021. O valor representa um aumento de 40% em relação ao ano anterior. Nos últimos cinco anos, os recursos somaram US$ 28,9 bilhões, tornando a IA o setor com maior nível de investimento privado.
Como o investimento em IA pode contribuir com a economia no mercado de saúde?
Segundo matéria da Forbes Brasil, as projeções da Accenture, multinacional de consultoria de gestão, tecnologia da informação e terceirização, a Inteligência Artificial na médicina pode proporcionar uma economia de até US$ 150 bilhões ao ano, até 2026, apenas no mercado de saúde norte-americano. O montante é equivalente a 3% de todos os gastos com este segmento nos Estados Unidos.
Em entrevista à mesma publicação, o presidente da J&J MedTech no Brasil, Fabrício Campolina, prevendo ganhos similares projetou para o Brasil uma economia anual de R$ 20 bilhões para a saúde nos próximos anos. Isto seria resultado de um aumento na produtividade obtida pela aplicação da IA no setor, com maior eficiência e redução de custos.
Vantagens e desvantagens da Inteligência Artificial na médicina
Quais são as principais vantagens de utilizar a Inteligência Artificial na médicina?
Entre inúmeras possibilidades, a Inteligência Artificial na médicina contribui com:
– Diagnóstico e detecção precoce: a IA pode analisar grandes volumes de dados médicos, como imagens de radiologia e exames laboratoriais, para identificar sinais de doenças em estágios iniciais que podem passar despercebidos por humanos. Algoritmos de aprendizado de máquina têm sido treinados para detectar câncer, doenças cardiovasculares, e outras condições com alta precisão;
– Planejamento de tratamento personalizado: a IA pode ajudar a desenvolver planos de tratamento personalizados com base nas características individuais do paciente, como genética, histórico médico e resposta a tratamentos anteriores. Algoritmos podem prever como diferentes pacientes responderão a certos medicamentos ou terapias, permitindo tratamentos mais eficazes e menos efeitos colaterais;
– Gestão de dados e registros médicos: sistemas de IA podem organizar e interpretar grandes quantidades de dados de saúde de forma eficiente, ajudando na gestão de registros médicos eletrônicos e facilitando o acesso a informações relevantes para os profissionais de saúde. Isso pode melhorar a coordenação do cuidado e reduzir a ocorrência de erros médicos;
– Assistência clínica: assistentes virtuais baseados em IA podem auxiliar médicos e enfermeiros, fornecendo informações em tempo real sobre diagnósticos, opções de tratamento e recomendações baseadas em evidências. Isso pode liberar tempo dos profissionais de saúde para se concentrar em interações mais humanas e diretas com os pacientes;
– Pesquisa médica e descoberta de medicamentos: a IA acelera o processo de descoberta de novos medicamentos, analisando dados de ensaios clínicos, literatura científica e bancos de dados biomédicos para identificar novas oportunidades terapêuticas. Modelos de IA podem simular como diferentes compostos químicos irão interagir com alvos biológicos, otimizando a pesquisa e desenvolvimento de novos tratamentos;
– Previsão e prevenção de epidemias: algoritmos de IA podem monitorar dados de saúde pública, mídias sociais e outras fontes para prever surtos de doenças e ajudar a prevenir a propagação de epidemias. Isso permite uma resposta rápida e eficaz das autoridades de saúde para proteger a população;
– Apoio à decisão clínica: ferramentas de IA fornecem suporte na tomada de decisões clínicas, oferecendo recomendações baseadas em análises de dados e protocolos clínicos atualizados. Isso ajuda os médicos a tomar decisões mais informadas e baseadas em evidências.
Quais são as maiores desvantagens da Inteligência Artificial na médicina?
Embora a Inteligência Artificial traga muitos benefícios à medicina, também apresenta alguns desafios, entre eles:
– Dependência da qualidade dos dados: a eficácia dos sistemas de IA depende da qualidade e quantidade de dados utilizados para treiná-los. Informações incompletas, truncadas ou de baixa qualidade podem levar a diagnósticos imprecisos e tratamentos inadequados;
– Privacidade e segurança: o uso de grandes volumes de dados de saúde levanta preocupações sobre privacidade e segurança. O risco de vazamento de dados e ataques cibernéticos pode comprometer informações sensíveis dos pacientes;
– Desigualdade no acesso: a implementação de tecnologias de IA pode ser cara e complexa, o que pode ampliar as desigualdades no acesso aos cuidados de saúde. Regiões e instituições com menos recursos podem não conseguir implementar essas tecnologias de forma eficaz;
– Substituição do trabalho humano: a automação de certas tarefas médicas pode levar à substituição de alguns empregos na área de saúde, o que pode causar resistência por parte dos profissionais e preocupações sobre o impacto no emprego;
– Falta de transparência e entendimento: muitos algoritmos de IA, especialmente os de aprendizado profundo, são considerados “caixas-pretas” porque suas decisões são difíceis de interpretar e explicar. A falta de transparência pode dificultar a confiança dos profissionais de saúde nas recomendações da IA;
– Erros e responsabilidade: erros cometidos por sistemas de IA podem ter consequências graves para a saúde dos pacientes. Determinar a responsabilidade por esses erros pode ser complexo, especialmente quando múltiplos sistemas e partes estão envolvidos;
– Dependência excessiva: uma dependência excessiva de sistemas de IA pode levar à diminuição das habilidades clínicas dos profissionais de saúde, que podem se tornar excessivamente confiantes nas recomendações automatizadas e menos críticos em sua análise;
– Problemas éticos: o uso de Inteligência Artificial na médicina levanta várias questões éticas, como a equidade no acesso aos benefícios da IA, o consentimento informado dos pacientes e o potencial uso indevido de dados para fins não médicos;
– Regulamentação e padrões: a falta de regulamentação clara e padronização para o desenvolvimento e implementação de tecnologias de Inteligência Artificial na médicina pode levar a problemas de segurança e eficácia. Assim, é essencial estabelecer diretrizes rigorosas para garantir a qualidade e a segurança dos sistemas de IA;
– Integração com sistemas existentes: a integração de novas tecnologias de IA com sistemas de saúde existentes pode ser complexa e desafiadora, exigindo atualizações de infraestrutura e mudanças nos fluxos de trabalho.
Inteligência Artificial no Brasil
Em que fase está a tramitação no país?
A Inteligência Artificial (IA) ainda está em fase de regulamentação no país. O tema consta no Projeto de Lei (PL) 2338/2023, que está em tramitação no Senado Federal. Em paralelo, o PL 266/2024 também tramita no Senado e prevê disciplinar o uso de sistemas de Inteligência Artificial (IA) na atuação de médicos, advogados e juízes. Desta maneira, o texto determina que os recursos tecnológicos sejam utilizados apenas como auxiliares na atuação dos profissionais.
De acordo com a Agência Senado, na área da saúde, o projeto estabelece que o uso da IA pode ajudar o médico, preservando sua autonomia profissional. A proposta altera a lei do Ato Médico (Lei 12.842, de 2013) para determinar que a utilização desses sistemas sem supervisão médica constitui exercício ilegal da Medicina, cabendo ao Conselho Federal de Medicina regulamentar sua utilização.
Conclusão
Assim, é possível perceber que a Inteligência Artificial tem prós e contras. Defensores e críticos. Contudo, é inegável que a IA já é uma realidade percebida no cotidiano da população mundial. E não há como retroceder este cenário. No entanto, organizações internacionais recomendam que, para dar certo, este campo ainda necessita de equidade, marcos regulatórios e alfabetização digital.
Por fim, a saúde global, tem recebido maiores investimentos na área da IA, o que vem gerando economia no setor. No entanto, para contribuir, efetivamente, com este segmento, a IA precisa agir de forma segura, ética, equitativa, com governança e regulamentação. E seguir padrões, com uma agência reguladora, auditorias e envolvimento colaborativo. Por fim, também é notório o quanto a IA colabora para agilizar o diagnóstico, o tratamento e a prevenção de doenças, na área médica. Entretanto, os recursos tecnológicos são apenas auxiliares e não devem, jamais, substituir a atuação de médicos profissionais. Especialmente, no Brasil.