Na década de 70, o médico recém-formado levava cerca de 20 anos para ter seu conhecimento defasado. Agora, a média é de apenas 1,6 ano. Assim, para ser um profissional qualificado, de sucesso e que contribua para a sociedade com o que há de mais moderno em termos de tratamento e recomendações clínicas é preciso estar em constante atualização. Não é uma escolha, é uma exigência natural do mercado de trabalho. Daí, surge a necessidade da Educação Médica Continuada.
O que é a Educação Continuada e qual é sua importância?
A trajetória da carreira médica é uma forma prática de compreender o conceito de “Lifelong Learning” ou aprendizado ao longo da vida. Esta perspectiva enfatiza a importância da aprendizagem contínua. A ideia é defendida pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), que conta com um Instituto específico para essa finalidade.
Segundo a UNESCO, a aprendizagem ao longo da vida nunca foi tão importante, seja para indivíduos, cidades, estados-nação ou para a comunidade global de formuladores de políticas educacionais. “É central para a agenda de desenvolvimento das Nações Unidas e é um foco importante deste conforme expresso na Agenda Educação 2030”, garante.
O que significa a aprendizagem ao longo da vida para a UNESCO?
Para a UNESCO, promover a aprendizagem ao longo da vida significa criar sistemas que realizem o direito à educação para pessoas de todas as idades e oferecer oportunidades para liberar seu potencial – para seu desenvolvimento pessoal e para o desenvolvimento econômico, social, cultural e ambiental sustentável da sociedade. “É isso que apoiamos, por meio de nossas atividades de pesquisa, desenvolvimento de capacidades, aconselhamento de políticas, publicações e gestão do conhecimento”, esclarece.
Educação Médica Continuada e a evolução no cenário brasileiro
Conforme artigo publicado na Revista Brasileira de Educação Médica, historicamente, a atualização profissional de médicos no Brasil tem acontecido informalmente, fora do contexto universitário ou de associações médicas. “Além das eventuais participações em congressos e seminários, muitos profissionais recebem notícias técnicas e científicas apenas pela ação dos propagandistas de laboratórios farmacêuticos, influentes divulgadores da informação médica, que até hoje visitam os mais remotos hospitais, clínicas e consultórios.”
Propagandista x médico
De acordo com o texto, considerando as situações de interação propagandista-médico como um momento de atualização profissional, ou seja, de educação continuada, é possível afirmar que, apesar do evidente conflito de interesses inerente a essa modalidade de divulgação de conhecimentos científicos, é inegável que ela funcionou no passado e ainda funciona em algumas regiões do País, veiculando estas informações de modo exclusivo, em especial para quem não dispõe de outras fontes de consulta, nem internet.
O ser humano aprende por toda a vida
Ainda segundo o artigo, com os avanços tecnológicos que possibilitaram a constituição daquela que hoje é definida como “Sociedade do Conhecimento”, o volume de informações científicas alcançou tal dimensão, que se torna impossível para um médico manter-se atualizado empregando apenas os mesmos recursos utilizados no passado, ou seja, propagandistas e eventos científicos. “De modo geral, é inconcebível imaginar que a educação nos dias de hoje se dará apenas na escola, até os vinte ou trinta anos de idade. Sabe-se que o ser humano aprende por toda a vida, em situações de ensino formal ou informal, a partir de estudos independentes ou experiências vividas”, argumenta.
“Continuing Medical Education”
O conteúdo publicado na Revista Brasileira de Educação Médica ressalta que as demandas da sociedade contemporânea exigem que as instituições de ensino promovam constantes oportunidades para o desenvolvimento humano e profissional de seus cidadãos. Então, nesse contexto surgiria a educação continuada.
O termo Educação Médica Continuada (EMC) não possui correspondência exata no sistema educacional brasileiro oficial. Mesmo assim, tem se tornado cada vez mais familiar aos profissionais de medicina. “Trata-se de um importante meio de educação permanente para o profissional do século 21, especialmente na área da saúde, onde o volume de informações científicas cresce exponencialmente. Deriva do conceito norte-americano de ‘Continuing Medical Education’ (CME), um sistema de atualização profissional médica que oferece certificação oficial a partir de um número determinado de créditos, que podem ser obtidos por meio de atividades educacionais variadas, como o estudo de um artigo científico, a participação em eventos ou a realização de um curso completo”, esclarece o estudo.
Para que serve a Educação Médica Continuada?
A Associação Americana de Educação Médica Continuada observa que o termo se refere a atividades educacionais que servem para manter, desenvolver ou aumentar o conhecimento, as habilidades e o desempenho profissional e os relacionamentos que um médico usa para fornecer serviços aos pacientes, ao público ou à profissão. Por definição da entidade, a EMC envolveria todas as atividades de educação continuada que auxiliam os médicos no desempenho de suas responsabilidades profissionais de forma mais eficaz e eficiente.
Nos Estados Unidos da América (EUA), por exemplo, a Educação Médica Continuada tem maior relevância ainda. A participação em determinados eventos educacionais geram créditos. Os Institutos Nacionais de Saúde (NIH), que integram o Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA, reconhecem que eles são importantes para os médicos porque alguns estados norte-americanos exigem um número específico de créditos, anualmente, para manter as licenças médicas. A maioria dos hospitais também exige um número especificado de créditos para que seus médicos permaneçam credenciados e possam atender os pacientes. Os créditos são autorizados pelo Prêmio de Reconhecimento Médico da Associação Médica Americana.
Quais são as vantagens da Educação Médica Continuada?
Entre as vantagens da Educação Médica Continuada, estão:
– Excelência no atendimento: profissionais médicos atualizados podem oferecer tratamentos ainda mais modernos, eficazes e com menos efeitos adversos aos pacientes;
– Aumento de acertos: com o conhecimento aprimorado, há menos possibilidade de erros médicos na área da saúde;
– Confiança e realização profissional: ao estarem melhor preparados, os profissionais têm mais chances de serem felizes no trabalho e ficarem menos estressados com os desafios diários.
Em resumo, conheça 10 dicas de ouro para se manter atualizado
1) Após a graduação, invista em uma residência médica (para sua especialização) ou em cursos de pós-graduação e instituições reconhecidas pelo MEC. Lembre-se que o Conselho Federal de Medicina (CFM) permite a realização de até duas especializações;
2) Conserve o interesse por múltiplos conhecimentos, mesmo fora da sua área de especialidade;
3) Mantenha o vínculo com uma instituição, seja acadêmica ou assistencial;
4) Participe de Congressos, Fóruns e Simpósios na área da saúde;
5) Questione se determinada indicação de tratamento é a melhor para o seu paciente; e troque informações com outros colegas da área
6) Saiba ler e interpretar pesquisas e artigos científicos;
7) Acompanhe as políticas públicas. Entre no site de órgãos como a Organização Mundial da Saúde e do Ministério da Saúde para saber sobre novas resoluções e recomendações;
8) Estude a ciência e a epidemiologia básica, para poder oferecer um melhor tratamento;
9) Faça networking com colegas da área e sua equipe. Discuta seus casos clínicos;
10) Tenha humildade para estar em constante aprendizagem, pois o conhecimento médico evolui e pode mudar de acordo com novos estudos e pesquisas mais recentes.