Sejamos realistas: erros médicos existem. Por isso, deve fazer parte da rotina de qualquer profissional da área saber como evitá-los.
O ato médico é uma conduta com fé pública, muito respeitado em nossa sociedade. Presume-se que o trabalho de profissionais da área tenha cunho exclusivamente positivo — ou seja, que seu único objetivo (e, logicamente, a única consequência) seja o bem do paciente. No entanto, nos erros médicos, não é isso que ocorre.
Você já deve ter ouvido falar dos erros médicos e dos males que eles podem causar, tanto para pacientes quanto para o próprio profissional. Mas, o que é exatamente esse ato, quais são os seus tipos e quais as consequências éticas e jurídicas que ele pode causar?
Neste texto, responderemos às principais dúvidas que médicos e estudantes de Medicina costumam ter sobre o assunto. Continue lendo para saber mais.
O que caracteriza um erro médico?
De acordo com o Conselho Federal de Medicina (CFM), um erro médico é um “ato ilícito cometido pelo médico”. Isso significa, na prática, que erros cometidos durante o ato médico podem levar à responsabilização civil e jurídica.
Qualquer intervenção ou ação de um médico, que se caracteriza como tal, é considerada um ato médico. A definição contempla ações verbais e não verbais, incluindo orientações, prescrições e procedimentos.
Como qualquer ser humano, médicos também são passíveis de erros. Porém, nesse caso específico, temos uma gravidade maior do que a média, porque erros médicos podem levar a prejuízos de saúde e até colocar a vida de outras pessoas em risco.
Quais são as principais causas de erro médico?
Médicos podem errar por várias razões, incluindo a falta de conhecimento técnico, de experiência, ou até mesmo sobrecarga mental. No entanto, o CFM define 3 tipos principais de erro médico, que estão diretamente ligados às suas causas. Confira.
1. Imprudência
A prudência é definida como uma virtude que afasta consequências nefastas ou indesejadas. Um exemplo de ação prudente ocorre quando o médico respeita o horário das consultas sem sobrepor pacientes.
Na imprudência, como o próprio nome sugere, ocorre o contrário. Ela é definida como uma conduta positiva (ou seja, quando o médico age com rapidez excessiva, indevida à função). Na mesma linha do exemplo anterior, comete imprudência um anestesista que assiste duas salas de cirurgia ao mesmo tempo — ato que pode levar à desassistência em caso de intercorrência em ambos procedimentos.
2. Negligência
A negligência, diferentemente do erro médico anterior, é considerada uma conduta negativa. Isso significa que sua caracterização se dá por ausência de uma ação médica que seria necessária ou esperada em determinada ação.
Como o próprio nome sugere, a negligência ocorre quando o médico deixa de atentar a algum aspecto que seria fundamental no atendimento. Um exemplo é a alta hospitalar de pacientes com algum problema médico que ainda necessite de maior tempo de internação.
3. Imperícia
A perícia é uma virtude que confere ao profissional o status de “perito”, ou seja, de capacidade na realização de algum ato médico específico. Comete imperícia, portanto, o médico que realiza algum ato sem treinamento prévio ou conhecimento para determinado ato.
Quais são as consequências dos erros médicos?
O erro médico pode ter uma ampla gama de efeitos, desde aqueles sem alteração clínica até alterações irreversíveis na saúde de outras pessoas. Por isso, é recomendada atenção redobrada por parte dos profissionais com atos que possam acarretar esses erros.
Por parte do paciente, é mais fácil entender como o erro médico pode trazer ações deletérias: exemplos incluem solicitação de exames equivocados, prescrição de medicações danosas ou até mesmo procedimentos desnecessários.
Para a vida do médico, além da redução na qualidade da assistência, há o risco ético e jurídico. O CFM deixa claro que erros médicos estão passíveis de punição civil e que os médicos podem ser obrigados a indenizar o paciente por problemas causados. Além disso, dentro do próprio conselho pode haver ações éticas e penais, podendo levar até à cassação do título de médico.
Como evitar erros médicos?
A melhor maneira de evitar erros médicos é compreendendo o que os causa e como evitar essas causas. Assim, vale recordar frequentemente os tipos de erro médico (imprudência, negligência e imperícia) e atuar para afastá-los.
Para evitar imprudências, é fundamental se questionar sobre o pior cenário que pode ocorrer com determinado ato; com isso, você estará sendo prudente e evitará atos danosos à saúde do paciente.
Negligências, por outro lado, podem ser evitadas com cuidado redobrado em momentos críticos — como na alta de pacientes, ou no início de procedimentos. Imperícias são frequentemente evitadas com treinamento e especializações, que capacitam o médico a novas ações e tornam sua prática baseada em evidências.
O que fazer quando um erro médico ocorre?
Essa é uma dúvida frequente entre profissionais da área, especialmente quando eles imaginam o pior cenário possível. Frente a uma situação de erro médico (sua ou de algum colega), como você procederia?
A conduta considerada mais ética, nessa situação, é informar diretamente ao paciente se foi você quem cometeu o erro médico. Assim, você impede de cometer outro erro (por omissão) e identifica possíveis consequências do ato equivocado rapidamente.
Quando é um colega que cometeu o erro, a conduta pode variar. Em primeiro lugar, o mais adequado geralmente é atentá-lo para o erro, pois pode ser que ele mesmo não tenha percebido. Caso o erro persista ou o aviso seja ignorado, deixar as autoridades médicas responsáveis cientes é o mais correto a ser feito.
Em qualquer situação, o diálogo geralmente é a primeira ação. Ela melhora a relação médico-paciente, aumenta a segurança dos procedimentos e evita que conclusões sejam tiradas sem o devido esclarecimento.
Os erros médicos podem acontecer com qualquer profissional da área, pois todos estamos propensos a erros em algum momento de nossas vidas. A boa notícia é que, tomando cuidados rotineiros e prestando atenção nas condutas que tomamos, é possível reduzir as chances de erro médico.
E você, já presenciou algum caso de erro médico e conseguiu revertê-lo com sucesso? Conte mais sobre isso nos comentários!